Descrição em solidão

Hoje tem notas musicais transando melodias nas linhas das partituras. Penduram-se em bemóis e sustenidos, expostas sobre a mesa, enquanto o piano velho descansa em sonata profunda no canto da sala.

Da janela da saudade, avista-se o luar caminhando no céu em busca de serestas.

Mente; Profusão de pensamentos; Viaja pela inconstância das coisas.

Sopros de velas nos mares visando alcançar distância.

Candeeiro suspenso, conta da solidão, às teias de aranha que se espargem no teto. Madeiras de lei cortadas pela servidão de negros,

moldadas em bancos e assoalhos, parecem sonhar brenhas.

No verniz que as cobrem, a calmaria e silêncio dando brilho ao labor e arte eterna do marceneiro.

Relógio antigo fica tentando hipnotizar o tempo, com seu pêndulo e acaba por dormir deixando ponteiros correrem pelos campos do presente.

A única coisa que o tempo faz é burilar esperas.

Visto pedaços de noite, como roupagem de seda fina e convido a brisa que assedia a cortina, a bailar comigo, pelas molduras dos quadros em que beiro as imagens em preto e branco. Ancestrais em sorrisos distantes e outros em seriedade, fotografados para serem lembranças.

Vasos orgulhosos de suas porcelanas miram-se quietos, identificando formas, guardando areia e flores de plásticos como que em adoração ao prazer de decorar o ambiente. A lareira tal qual ninho, abriga e excita lenhas que se fazem brasas no colo do fogo. O frio timidamente se cobre de calor. Vou até a estante e folheio um livro.

Vejo gravuras e grafias, me recolho no rodapé da solidão.

O espelho imita meus gestos e ficamos quietos.

As notas musicais continuam sob aplausos de clave de fá.

Takinho
Enviado por Takinho em 25/10/2018
Reeditado em 18/08/2020
Código do texto: T6486009
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