O porquê dos lamentos

Confesso que não sou assídua aos textos jornalísticos por achá-los um tanto ríspidos, quase secos de emoção, no entanto, é ideal que seja assim para que não se comprometa a imparcialidade da informação.

Do pouco que li entre jornais, periódicos e textos científicos, principalmente dos últimos, encontrei diversas explicações para muitos dos diversos sentimentos e reações humanas. No que vou dizer agora, nego a mim mesma, na minha essência incrédula e material, mas por que encontrar complexidade onde não existe? Desvendar os segredos biológicos do amor, tido como uma fantasia maquinada para justificar a continuação da espécie, além dos ciúmes, a inveja e tantos outros que podem ser resumidos na simples tarefa de manter a linhagem humana.

Não que seja contra a ciência, muito pelo contrário, creio que o conhecimento detalhado acerca do mundo nos leva a compreendê-lo melhor. Que mal há em amar em paz, em querer ter sempre o outro por perto, em ser protegido? Nenhum, e para que isso aconteça, para que o homem continue sendo homem, não se fazem necessárias explicações, basta apenas seguir vontades e instintos.

O único sentimento sobre o qual não li (e muito possivelmente existe explicação para este também, os meus limitados horizontes não me permitem afirmar com certeza) chama-se arrependimento. Talvez, seja algo tão inerente ao homem moderno que nem sentimos a sua presença.

As escolhas de cada um, inevitavelmente, conduzem tanto a erros quanto a acertos. E nas vezes que erramos, que não são poucas, o arrependimento toma seu lugar na nossa mente, em chances de refutar o acontecido e uma outra série de medidas que usamos para compensar a própria consciência. E no que adianta tanto esforço? Em nada. Se arrependimento matasse, eu não estaria aqui agora e nem você. O passado se consome em si mesmo.

A gente se arrepende, mas não devia.

De viver a vida contando minuto após minuto para ver a hora marcada, sem aproveitar o tempo que passa e se esvai.

Vivemos vendo colegas e amigos partirem e nas nossas lembranças percebemos o quanto poderíamos ter feito a mais. E nos arrependemos disso.

Arrependemos-nos também de não ter dado aquele conselho, nem enviado uma mensagem por nenhum motivo especial.

A verdade, na verdade, é que só nos lembramos das pessoas no natal.

A gente segue sendo sempre radical com nós mesmos, mas nem assim admitimos os erros diante de outros.

A gente se arrepende de não ter ido mais à praia e feito viagens com o marido, de não desapertar o laço da gravata, de não andar descalço quando os calos apertam e de não ter sido mais condescendente com os calos que aborrecem além dos sapatos e pés.

Quebramos a cara e cabeça tantas e tantas vezes, por não escutar o conselho da mãe.

Pensamos sempre que podem acontecer imprevistos a todo mundo, de menos a nós. Muitos mudam de opinião na cama de um hospital, outros não têm a oportunidade de mudá-la. Porque somos imbatíveis, essa é a eterna utopia. A gente se arrepende de ser utópico.

Ninguém chora por amor, a lágrima é um acaso. Admite-se chorar por orgulho ferido, raiva, ressentimento e até de inveja, mas por amor, jamais. Seria ser dependente demais em um mundo onde é cada um por si e nem todos acreditam em Deus.

A gente sabe, mas não devia, já dizia Marina Colasanti. E sabendo, se conforma, toca o barco sem fazer nada para mudar o que está errado e esconde que se arrepende. Não seria um instinto de proteção, de autopreservação? Ou apenas mais um ato de conformismo? Não sou eu quem vai responder essa questão.