O homem ao nada

É tão pequeno este quarto, não sei porque sou tão apegado a ele. Talvez ele seja a parte mais impregnada de toda a casa com meus pensamentos. Não existe um outro lugar que esteja mais embebido pela minha vida que este cômodo.

La fora o chão está molhado da chuva que caiu. Aqui dentro eu fico me perguntando por que a vida é tão curta para as pessoas? Por que não vivemos trezentos anos? Por que não temos algum superpoder?

Acho que toda a minha infelicidade e tristeza iluminam e animam este lugar. Existem tentas coisas nele, meus sapatos, minhas roupas, meu cheiro. A imagem de uma moça esquecida há muitos anos e minhas lembranças da época em que escavava minhocas no quintal invadem minha mente. Todas essas coisas fazem parte deste quarto, estão misturadas com meus livros, com a pintura das paredes, com o tapete verde-musgo.

Voltou a chover. O barulho dos pingos da chuva nas poças d’água compõem uma sinfonia esquisita que penetra em minha pele e faz-me entoar um canto melancólico. Fico imaginando as folhas das árvores encharcadas e o cheiro gostoso de terra molhada.

Lá fora está chovendo e eu estou sem sono. Envolto em meus lençóis brancos busco algo que não sei nominar. Será que a chuva vai demorar muito? Tomara que chova a noite inteira ...

Tantas coisas eu busco no silêncio deste quarto.

Jota Alves
Enviado por Jota Alves em 25/11/2018
Reeditado em 25/11/2018
Código do texto: T6511263
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