Confissão

- Com uma bala matei meu tio, que tanto insistia para que eu me “bandiasse” para o partido político que mais lhe dava tostões na época das eleições. Irritei-me com tanta hipocrisia!

- Com duas balas matei meu pai, outro dia o vi surrar uma de suas amantes, que sangrando me pedia socorro. Nem pude pensar e disparei!

- Com uma bala matei meu vizinho, o sacana subiu no muro para apanhar algumas mexericas do meu pomar. Isso é roubo, tive que puni-lo!

- Com uma bala matei meu cachorro, ele latia incessantemente, não pude conter minha ira, foi mais forte que eu. Pobre cão, não pode se defender!

- Com uma bala matei minha mãe; a coitadinha reclamava todos os dias de seus males e para aliviar seu pranto lhe presenteei com a morte. Fiquei deveras aliviado!

- Com uma bala matei meu filho, ele nem chegou a ver o mundo, mas para anteceder o sofrimento de ter um pai criminoso dei-lhe um lindo velório junto ao ventre de sua mãe. Acolha céus esse anjo!

Encontro o espelho e o desespero me faz querer mais uma bala. Coloco o dedo no gatilho e espero ouvir o estampido. Mas nada. Não ouço nada! – A loucura me impede de afirmar se acabaram as balas, ou na verdade nunca as tive.

Jhenniffer Muniz
Enviado por Jhenniffer Muniz em 12/12/2018
Código do texto: T6525239
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