Teoria do Poeta

O poeta não é nada. Quando muito rema nas galés para levar a poesia ao encontro do sonho. Ele não escolhe coisas. E nem pode escolher. E muitos menos quer. Ele é apenas o louco que desconhece a loucura. E que acordou contando os dias para festejar. A poesia é a festa. Que nas horas mais incertas quando às vezes não dá tempo de se vestir. O poeta é o bufão de uma grande comédia que arranca todos os risos da platéia. E a vítima de um grande drama que arranca lágrimas também. Seu nome pouco importa. E de onde vem nunca lhe perguntarão. Ele pode ser qualquer viajante das estrelas. Ou um bêbado do próximo bar. Ele não sexo. Ele não ter cor. É democraticamente exposto às tempestades que a vida dá. O poeta não tem beleza. Ele vê a beleza onde ela deveria estar. O poeta tem vários ofícios. É a carpideira da morte do dia a dia. O palhaço que abre o circo. E o último a jogar sua pá de cal. Não lhe dêem muitas flores pois é perigoso. Ele saber fazer a mágica de transformá-las em tiros quando é preciso. E também só ele sabe fazer o oposto. Não o olhe nunca no fundo dos olhos. Causa vertigem um mar tão profundo onde o krakkem dorme esperando acordar. E é perigoso revelar assim os seus segredos. Porque o poeta sabe tudo. Mesmo quando desconhece todas as coisas. Se seus versos são imperfeitos é porque desse jeito é que deveriam estar. Ele não os escolhe. Ele é escolhido. Os versos são emoções ternas que compõem um poema. Ou são máquinas infernais que rondam o dia. Mas as emoções ternas podem às vezes machucar mais. E dores para o poeta são apenas conseqüências inevitáveis. Cada um poeta deve ter sido faquir em uma outra encarnação. Como se conhece um poeta? Não há como fazer isso. Muitos escrevem. Mas outras sonham e escrevem no ar. Como se classifica um poeta? Pelo que ele sente. Nem sempre letras são perfeitas. Mas os sentimentos sempre o são. O que se espera de um poeta? Nada. Pois a poesia anda com seus pés e esses pés muitas vezes estão cansados e cheios de poeira. Nunca confiem nele. Se não quiserem chorar porque esqueceram das coisas mais importantes. Se não tiveram toda ternura que deveriam ter. Se a chuva não foi bastante para molhar o jardim. E as flores jazem mortas em seus galhos. Os poetas não têm culpa de nada. Seus sonhos já nascem perdoados. Por último e ainda. Nunca incomodem o poeta. Ele ainda se esforça remando sua galera...

Carlinhos De Almeida
Enviado por Carlinhos De Almeida em 14/12/2018
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