Cotidiano

Ontem ao final da tarde eu saí para tomar um café

Solitária andei pelas ruas a observar as pessoas que estavam a pé

Testas franzidas, passos apressados, olhares atentos e preocupados

Uma multidão sempre a correr sem nada apreciar, e ao mesmo tempo andavam todos dispersos no ar, como bolhas de sabão voando sem rumo

Uma criança que sorri para ti, um adulto está a mendigar, uma flor desabrocha ali, um casal se desentende acolá

Sentei em uma mesa distante e olhei todos calmamente

A moça nem reparou os olhares que o moço lançava apaixonadamente

Pela janela podia se ver um João de barro construindo um lar

Um lar tambem era o ventre da grávida que acabara de chegar

Vi o tempo e suas histórias nos traços de um idoso, vi também o futuro no sorriso de um jovem risonho

Vi um conto de amor começando no beijo apaixonado do primeiro encontro, vi a celebração de amizades marcada pelos abraços e sorrisos do reencontro

Toda simplicidade da vida em 40 minutos do dia, cenas que se repetem e quase ninguém aprecia

Todo dia o sol nasce, toda noite a lua se achega, o cotidiano é repleto de encanto, renderia livros para bibliotecas inteiras.

Mas não poetizamos a vida, não versamos sobre o dia, e toda gota de simplicidade se evapora diante de nós totalmente desapercebida.