Gota a gota

A parte boa de não sentir mais aquele frio no estômago é que você pode andar por aí despreocupado

Liberto da carga do amar demais

Porque uma vez você amou esse tanto

Aquela quantia absurda

Mas não rendeu. Guardou com cuidado, mas o bolso furou

E o amor (o que é isso mesmo?) se foi.

Parece que foi há um milhão de anos atrás

E

Ainda

Sinto aqui a violência da presença

Que Não me deixa em paz.

Sentada na varanda, tomando café,

Ela vem.

Esperando ser atendida na fila do mercado,

Ela vem.

Vem forte

Lá naquele antro de cárcere periódico é onde ela sempre vem

Toda vez

e cada vez mais mal educada

Não anuncia, não pede licença

Chega chutando a porta e me deixando sem graça

Desgraça!

Que lágrima filha da puta .

Como pode ser Tão pequena e me envergonhar esse tanto?

Tão rasa e ainda me afoga

Tem o poder de me lembrar coisas que eu mesma afoguei há tempos

Traz de volta o corpo arroxeado, boiando na margem do rio de decepção

A solidão já é parte de mobília que não sei me livrar

Daquelas que a gente sabe que não presta, mas vê um valor sentimental.

Paradoxo inexplicável esse: quando a solitude acaba sendo a companhia perfeita pra lamentação.

Aline San
Enviado por Aline San em 16/01/2019
Código do texto: T6552623
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