A coisa

Ei de acordar, cama quente e noite fria, a dificuldade de acordar misturada com o sentimento de quem diria, você olha para o corredor e tem uma monstro colossal a encarar, pensando que esse era o último momento que viveria.

Seu corpo estremece, a porta bate, a coisa anda, a lágrima desce, o cachorro late, o dia canta, a aranha tece, a maçaneta abre, você se espanta. A vida perece, a coisa que te mate, os olhos lhe arranca.

Respirando mais rápido que o pulmão, inteiramente suado, de mente perturbada, leva o pescoço até a mão, se sentindo aliviado, achou que a desgraça estava acabada, só que não estava no quarto não, é um pesadelo inacabado, sente-se amaldiçoado. Está no porão, em quatro paredes quase sufocado, anda lentamente até a entrada, e de repente o supetão, o monstro ali parado, ele te dá demoníaca encarada.

As pernas tremem, a luz apagando, as escadas rangendo, os gritos temem, o monstro andando, de bocarra sorrindo, os olhos mentem, a luz desligando, e você pedindo. Pisca e não há mais, suspira aliviado, recobra a postura, não quer tal sentimento jamais, achou que tinha acabado, a mente se perturba, aquilo era demais, sobe as escadas apressado, rindo de toda aquela loucura.

Seu corpo é amarrado, está na sala de jantar, não sabe o que fazer, debate-se desesperado, ele vai te matar, aconteça o que acontecer, seu crânio é esmagado, começa a gritar, mais um dia a se nascer, mais uma vez no quarto, a maçaneta já começa a girar, você não quer morrer. Pula a janela, pensa no que fez para isso merecer, está um dia claro, machuca a perna, tudo que resta é correr, preso num pesadelo rebobinado.

Corre por todas as casas, sente a respiração pesada, a coisa lhe chama para voltar, queria muito ter asas, o pé descalço na calçada, ele começa a lhe procurar, pede a Deus todas as graças, uma criança desesperada, os passos começam a lhe alcançar, arromba a porta de um lar, joga os móveis no caminho, tenta diminuir a respiração, num guarda roupa começa a entrar, faz tudo com muito carinho, pra ele nunca te achar, a coisa começa a te farejar, andando de fininho, com o sentimento de odiar, as mãos começam a te apertar, não tem outro jeitinho, ele sabe onde está.

Antes da porta abrir já acordou, encontra-se no quarto do pai, está chorando, fez de tudo e se doou, o sentimento de medo não se esvai, o pesadelo está recomeçando, em alguma coisa tropeçou, pra de baixo da cama vai, Deus não está ajudando, aparecem sapatos na fresta, voz rouca lhe invocando, pensa em sair, começa então sangue na festa, multi-vozes lhe profanando, nunca mais vai ir, começa o suor na testa, está de mijando, a coisa começa a rir.

Nunca disse como era o monstro de verdade, nem mesmo dia fisionomia, muito menos quem é o personagem, mas aqui é a realidade, é a primeira filosofia, a minha maior malandragem, esse monstro é do dia a dia, inesperado pela crença, quem dera se fosse miragem, ele lhe procura, sente sua presença, o gosto do seu sofrimento, ele lhe tortura, sua pior doença, o senhor do julgamento. Aqui digo que o dia acaba quando não se ama, que não vive sem positividade, procurando-o com sorte, o monstro da própria cama, só pensa na sua insanidade, preso a ti até a morte, ele vai te jogar na lama, mas você tem que ser forte, pois é uma mortalidade. É assim todo dia, mas quem diria, que o monstro habita em vós, atado com nós, ignore-o ou seja superior, você mesmo sempre trará dor, mas não adianta se odiar ou temer, por que isso nunca será viver.

Corvo Cerúleo
Enviado por Corvo Cerúleo em 18/01/2019
Código do texto: T6554066
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