Sombras da Criação

As imagens ao longe, no crepúsculo tardio, insinuam formas. Formas colossais, sinuosas. Logo abaixo, as construções, obras viradas no cimento suado, ígneas, devido ao verão baforado, mortas, pela natureza própria delas, sem transmitir vida, sem pulsar uma força, sequer uma energia.

Mas as formas, estas que vos digo, estão lá, não deixa-nos esquecer, as sombras da criação, insinuam o começo e apontam para o fim. E destas sinuosidades, pode-se contemplar as curvas de uma poesia, escritas por um Poeta, Poeta das moradas Eternas, com sua habilidosa pena, criatividade turbulentamente mansa, com uma mão que não se cansa e uma mente genial.

Poderias tu lê-las? Certamente poderia. Mas quê isso? Que sobrepõe-se a tão belas obras? Amontoaram pedras, aos montões, quase não se vê mais as inspirações, quem ousou tamanha estupidez !? Um crime contra a arte, um crime contra o belo, o contemplativo, o natural, o orgânico, a vida.

Redigiu-se um conto, sim, mas sobrepondo a lira, as letras garranchadas da infraestrutura pós-moderna, por cima da pureza das alvas palavras do Poeta. Sombras da criação. Talvez sombras das coisas vindouras? De uma nova criação. Quando o Poeta, como em um desconforto intenso, levantar-se de sua firme escrivaninha e resolver desintegrar toda (de)forma poética que não foi de Sua autoria, estas que sobrescrevem seu papel criativo, então dar-se-á, novamente, atividade ao Logos do Poeta, que é a ponta de sua pena. Destas sombras, então, veremos uma nova obra dele. Com assinatura, e tudo mais. E as coisas que dantes sobrepunham nem sombra serão jamais.