O Meu Barco

Naveguei por alamedas abarrotadas

de adereços luminosos,

que não foram arranjados para mim,

todavia, mesmo assim

despencaram sobre meus olhos e rosto,

e deixaram bálsamo

que cravou em meu espírito

o assombro pelo reencontro

com aquilo que sempre busquei.

Dei graças por essa benção dolorosa,

infinitamente bela,

e pela oportunidade de constatar

a beleza e imponência

da obra divina.

A procura é sempre

caminho árduo e espinhoso,

e o caminheiro,

invariavelmente,

fere-se em sua jornada.

Obviamente são feridas dolentes,

mas imensamente reconfortantes,

no sentido da comprovação

do caminho percorrido.

Cada chaga indica

um passo dado na exata direção,

no norte absoluto,

para vencer ondas e tempestades

com velas esticadas

e velocidade vencedora,

ao encontro de águas mais calmas

e horizontes claros e apaziguadores.

Meu barco,

o meu barco.

Barco de estrutura instável,

mas de madeira firme,

de lei, bem trabalhada,

que parado não se sustenta.

Veloz, rebenta marés

e rompe o oceano.

Esse barco

que hoje corta pélagos e tempestades,

amanhã recolherá seu pano

e regozijará ao sol poente.