CINZAS...

Quarta-feira, de Cinzas. Céu nublado, densas e escuras nuvens no céu, escuros e sombrios pensamentos tomam sua alma. Por que tinham de ser assim os seus dias? Só o silêncio perturba mais do que a lembrança do que se foi com aquele amor. Amor de Carnaval. Acabou, virou cinzas na quarta-feira. Quarta-feira de Cinzas.

Lembrou com mágoa aquela noite. Estava sozinha encostada à cortina grená que cobria parte da imensa janela do salão do Clube. Estava muito cheio. Mordiscando a ponta da luva admirava aquela multidão colorida agitada ao som grotesco que a delirante banda tocava. Não sentia vontade de entrar naquela euforia. Mesmo assim os acordes da marchinha empolgavam e sem querer o seu pé batia àquele compasso.

Sentiu que havia alguém a observando e virou-se para ver quem era. Era ele, o homem encantado dos seus sonhos. A alta e esguia figura vestia um traje de palhaço, os olhos cobertos pela negra máscara faiscavam e provocavam arrepios em sua espinha. Hipnotizada sentiu que voava mais do que andava ao encontro daqueles braços abertos para ela. Enlaçados começaram dançando e ela nem sentiu que haviam saído do salão e estavam ao fundo escuro do amplo terraço e ele a beijava apaixonadamente. E ela retribuía.

O que aconteceu depois ela tentava esquecer, mas era impossível. Como esquecer aquelas mãos que a libertaram de suas roupas e loucas a dobraram ao desejo que o empolgava? Cedeu, foi dele. De repente se viu sozinha. Confusa, vestiu-se e voltou ao salão. Lá estava ele sambando com uma fogosa foliã. Olhou-a e sorriu maliciosamente. Entendeu. Foi amor de carnaval a virar cinzas na quarta-feira. De cinzas...

regynacarvalho
Enviado por regynacarvalho em 09/02/2019
Código do texto: T6570756
Classificação de conteúdo: seguro