07:32
às vezes escrever é um fardo. sempre me falaram que o peso não é maior do que cada um pode carregar. imagino que meus braços magrelos possuem muito mais força do que imaginava.
às vezes escrever é como fogo. que queima e queima em uma chama constante. e tu me queimou.
relações são facas de dois gumes. alguém me disse um dia.
mas essa manhã não queria escrever sobre relações. ou sobre o fogo que consome corpos.
as nuvens se abriram dando lugar para o céu azul. e essa manhã o pino do meu óculos caiu no chão. depois de alguns minutos, míope, consegui localizar aquele pino brilhoso e minúsculo no piso de madeira. e agora meu braço possui um misto de roxo, verde e amarelo da minha pele magoada.
pensei em ti. e naquele seu email falando que a tua pele é arisca. que é difícil viver nela. a minha é sensível demais e às vezes é doloroso viver nela. meu sangue é negro. um lindo negro que circula por todo corpo.
sabe
quando eu era pequena achava que nosso sangue era verde. que se conseguisse atravessar a praia chegava em outro país. e que bonecos escutavam nossas falas. e os ursos. e aquele meu quarto escuro.
e sinto falta dos teus ombros largos e dançantes e cheirosos andando frente ao meu corpo cansado. minha roupa tem cheiro de amaciante. e na cozinha tudo tem um misto de odores. de pessoas. de alimentos. das plantas. e dos outros animais próximos.
mas são só 07:32 da manhã.