O que não te escreverei
Queria escrever muito…
Queria escrever todas as noites que passei em claro, tentando te esquecer.
Queria escrever o vazio que sinto ao entardecer, a dor que sinto ao despertar.
Queria escrever a vontade de te abraçar e te olhar bem dentro da alma.
Como eu gostaria de escrever a sensação que tenho quando te encontro, nos poucos minutos que temos para sermos autênticos, antes de nos entregarmos a nossa realidade - a realidade de não nos pertencermos.
Queria poder te contar dos meus dias e de minhas descobertas, de minhas alegrias e decepções.
Gostaria de escrever tudo o que me sufoca e que talvez nunca possa dizer- te, olhando nos olhos. Simplesmente o que nunca irei dizer-te em palavras, somente nos olhares que trocamos e que muito dizem, que tudo dizem, nos longos e afetuosos abraços de agradecimento e ternura.
Queria, assim, escrever diuturnamente, para expressar a vontade de te beijar: seria um beijo longo, mas com calmaria, com a segurança do amor não dito; com a firmeza do sentimento subentendido nas entrelinhas de nossas vidas...
Não seria paixão, seria quase uma devoção, ou bem mais...bem mais, seria um reencontro...
O beijo do reencontro que, possivelmente, nunca trocaremos… as noites de conversas que, com certeza, nunca teremos.
Por tudo isso, eu gostaria de escrever. E ficar escrevendo tanto e sempre até que meus dias se esvaíssem e tudo o que me restasse seriam as longas cartas a você.
Teria escrito, incansavelmente, ao longo da vida. Com a certeza de ter sido você o motivo da busca, a razão da saudade, a dor da ausência que tanto havia sufocado meus dias tristes e solitários.
Tudo isso eu gostaria de escrever, queria te escrever…