O que não te escreverei

Queria escrever muito…

Queria escrever todas as noites que passei em claro, tentando te esquecer.

Queria escrever o vazio que sinto ao entardecer, a dor que sinto ao despertar.

Queria escrever a vontade de te abraçar e te olhar bem dentro da alma.

Como eu gostaria de escrever a sensação que tenho quando te encontro, nos poucos minutos que temos para sermos autênticos, antes de nos entregarmos a nossa realidade - a realidade de não nos pertencermos.

Queria poder te contar dos meus dias e de minhas descobertas, de minhas alegrias e decepções.

Gostaria de escrever tudo o que me sufoca e que talvez nunca possa dizer- te, olhando nos olhos. Simplesmente o que nunca irei dizer-te em palavras, somente nos olhares que trocamos e que muito dizem, que tudo dizem, nos longos e afetuosos abraços de agradecimento e ternura.

Queria, assim, escrever diuturnamente, para expressar a vontade de te beijar: seria um beijo longo, mas com calmaria, com a segurança do amor não dito; com a firmeza do sentimento subentendido nas entrelinhas de nossas vidas...

Não seria paixão, seria quase uma devoção, ou bem mais...bem mais, seria um reencontro...

O beijo do reencontro que, possivelmente, nunca trocaremos… as noites de conversas que, com certeza, nunca teremos.

Por tudo isso, eu gostaria de escrever. E ficar escrevendo tanto e sempre até que meus dias se esvaíssem e tudo o que me restasse seriam as longas cartas a você.

Teria escrito, incansavelmente, ao longo da vida. Com a certeza de ter sido você o motivo da busca, a razão da saudade, a dor da ausência que tanto havia sufocado meus dias tristes e solitários.

Tudo isso eu gostaria de escrever, queria te escrever…

Rosa Cristina Camara
Enviado por Rosa Cristina Camara em 01/03/2019
Reeditado em 25/09/2020
Código do texto: T6587305
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