Cotidiano

Ela sempre canta.Seja na cozinha preparando o café da manhã, ou no tanque esfregando as roupas sujas.

É bonito de ver como dobra o corpo e estende​ os braços até o balde, separa peça por peça e pendura no varal.

Ela faz isso com delicadeza, sem pressa de acabar.

É bonito de ver depois, o vento balançando o varal, e o efeito colorido e perfumado se espalhando no ar.

É bonito de vê- lá voltar à cozinha, pegar uma xícara, despejar o café quentinho e cheiroso e toma-lo devagar, aos goles, sentada na cadeira, correndo os olhos lá fora no varal, nas roupas, percebendo o vento, sentido o perfume entrando e se misturando ao cheiro do café.

Ela sorri satisfeita.

É bonito de ver como se levanta da cadeira, e vai até a pia em passo leve , curto, mas firmes ao chão, abrir a torneira e mergulhar a xícara.

Por um instante seus olhos se perdem ali, naquela água se derramando.Talvez uma antiga lembrança... Mas é só por um instante. Ela logo retorna a função, agora com outra canção enquanto deposita a xícara na pedra fria da pia.

Ela hoje é a minha poesia.