Já não me tira de mim

Na contagem regressiva para a morte (porque cada dia vivido é computado) fiz e refiz o traço sobre o qual buscaria o equilíbrio.
Algumas vezes o traço falhou: Equivoquei-me...
Noutras vezes o traço me enganou: Embaralhei-me.
E, noutras, ainda, do traço me distraí: Perdi-me.
Ancorei em mares alheios;
fiz da minha vida um picadeiro;
dei baixa na minha identidade;
nos palcos da vida algumas máscaras usei;
as palavras de amor que perseguia de tanto querer nunca as encontrei;
dos laços de fitas bordadas que enfeitaram a minha memória não me despreendi, os amarrei;
de elos de aço me soltei, mas em outras algemas me encarcerei.
Dei tudo o que tinha nem me preocupei com o que era meu...
Sonhei acordada e em pesadelos virei artista principal.
Fui ver a maldade passar de trem enquanto o mal que queria me tomar vinha de carroça.
Mas o bem que fiz, quando vi arrependimento no olhar, quando com a lua quis presentear, quando a mão estendi sem pensar, quando resolvi amar, este, ninguém jamais poderá me tirar.
Pode levar tudo o que restou...
Já não me tira mais de mim, e isto basta.
Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 24/03/2019
Reeditado em 16/05/2019
Código do texto: T6606265
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