Sorvete no frio
Às vezes esqueço, e penso
que sou um menino
descendo a ladeira de patinete
pedindo um sorvete em dia de frio.
Depois, dispenso o menino
sou rabugento,
é quando um lamento
me escapa da boca
então, nem mesmo me aguento
me fecho no quarto
e deixo passar.
Enfim, entre risos e guizos
o tempo não para
o mundo gira, a Terra translada
a moça por aqui já pode passar
olhar para minha janela
sem que eu pense, jure
que olhando pra ela, sorri para mim.
Rebato meu asco ao calor
mas acho um favor que tenha passado,
o frio há de matar os pernilongos,
os mosquitos da dengue,
e apesar do desleixo de alguns
não resistirá, a perrengue, aos vinte graus.
Quanto ao menino do sorvete no frio
é mais ser diferente que contraventor
como descer a ladeira de patinete
mais reluzente do que sonhador.
Ou, seria um despautério
um velho ensimesmado
dormir mais tarde que a poesia?
Acho que não,
o universo não se deteve
também nesse ínterim,
um pássaro trouxe o sol ao bico
como um bilhete que anuncia o dia.