Feito algodão doce nas mãos puras da menina de olhar terno, era inconfundível a sua reação quando a imagem passeva na sua mente esperançosa.
Nem as nuvens de algodão vistas de longe, como se fossem ovelhinhas a pastar em terreno vasto, fértil, traduziriam aquela colheita tão almejada.
O doce de figo nas compotas, milimetricamente calculado, para servir as mesmas colheradas, em qualquer canto do mundo onde pudesse chegar, daquela avó prendada que esquentava o abdomen no fogão à lenha, com um avental feito de chita colorindo o ambiente, se referiria ao cuidado.
Nem mesmo a toalha bordada, posta à mesa para receber as visitas que chegariam de longe, esfomeadas, resumiriam a habilidade vista nos traços de ponto cruz, sem remendos, visto no avesso, com passa-fitas branco em contraste com um bordô escuro.
Nada, seria capaz de desenhar a sublime cena de ver a vida passar no interior. Não, não estava pensando na casa da Avó Bertina, no interior, era na casa interna, das vezes que tiçou fogo e acabou em brasa, das vezes que colocou-se à mesa para o banquete e a visita não apareceu, das vezes que separou os sentimentos em potinhos para distribuir conforme planejado, mas foram abertos sem critério e devorados sem sentir seu sabor. Do algodão doce feito em máquina giratória, fio a fio, até sair o bolo, embolo. Dos rolos, tolos, solos.
Ah essa viagem... Era um sonho ver-se por dentro naquela imagem, nem vó entenderia, menos ainda ela.

 
Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 24/04/2019
Reeditado em 25/04/2019
Código do texto: T6631647
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