Insossa

Ao perceber a noite chegar, foi em suspiro de alívio, para o quarto. Alívio que dizia, que embora tenha segurado o peso durante o dia, agora era a hora de deixá-lo cair.

Tudo que se segura de lágrima ao peso de ter que conviver. Como máscara que se usa para disfarçar a cara de quem não se agrada. Não agrada nem a vida, que enche os olhos de quem vê de fora.

Queria não ter que viver, porque de disfarces em disfarces, a vida é uma mentira. Mentira que vende felicidade como quem engana a fome com pedaço de doce. Que acaba agora, finda, é breve o sabor.

A vida que se arrasta em horas forçadas a ficar olhando para o espelho. Espelho que não toca, mas que corta. Sem toque enforca, cega, maltrata com a verdade nua e crua, sem piedade.

Espelho que pinto, enfeito, ofusco. Direito que tenho de inventar uma nova realidade a partir desta.

Atolando até o pescoço com as falsas descobertas. Enterrando todo o lado do pensar sozinho, como em um automático estado de condução.

Ilusão da qual nos prendemos e nos presenteamos, como se fizesse bem e como se a vida precisasse de tempero.