Evitando o inevitável

Há algum tempo venho bloqueando lembranças, pessoas, sentimentos. A ponto de sentir uma certa aversão. Como se me causassem instabilidade em um imaginário controle que finjo ter.

Evito Hozier, evito a Coen, o Pondé. Evito objetos, certos perfumes. Escondi varias roupas, fotos, aneis. O velho vestido que nunca foi usado. O livro presenteado. Evito palavras, poesias. Evito lugares, evito olhares.

Me assegurando ou me escondendo atrás de uma armadura que é permanentemente reconstruida. Desviando de alguns caminhos. Me esquivando de certos contatos. Me protegendo da perda de controle, do ar . Me protegendo da cegueira.

Fingindo ser sensata, criticando, desfazendo, renegando. Como quem tem poder sobre os próprios sentidos. Como quem controla até onde alguém pode chegar. Até onde um choque térmico, calafrios e questionamentos podem ir.

Inventando dezenas de justificativas, alterando a voz para despejar um argumento.

Se certificando de cada palavra exata, em grafia e em sentido. Contando os passos, e economizando eles, mas não demorando no lugar. Deixando ficar o quer, levando pra frente o que é peneirado na triagem. Triagem de regras restritas e irrefutáveis.

A verdade que o grito diz o contrário, quanto mais estridente ele é, menos diz sobre o que o fala. Tenho bloqueado fingindo controlar, o que navega em mim e é rio que invade o mar.