Algoz de sonhos

Durante muito tempo ele viveu aqui.

Deixei que entrasse na minha vida e se instalasse nos meus pensamentos.

Como um parasita foi sugando todas as minhas energias.

Escureceu meus dias; confundiu minhas ações.

Impediu que meus olhos enxergassem o brilho do sol no horizonte.

Como um animal, voraz e audaz, rondava, vigiava,

Dominava, como um rei imposto.

Tomou o lugar do que era nobre.

Sem avisar, roubou meus sonhos.

O encanto do porvir.

A doce palpitação da incerteza.

Em seu lugar, colocou a angústia do tempo perdido.

A saudade de momentos nunca vividos.

A ânsia, a dor, a apatia.

Mas algum canto ficou sem seu domínio.

Aí germinaram e cresceram sentimentos, sensações, que estavam adormecidas.

E quanto mais fortes tornavam-se elas, maior a luta contra o antigo ditador.

Este já não aparecia mais.

Sua fraqueza era então meu fortalecimento.

E como uma criança que ouve a melodia perfeita pela primeira vez,

Os espaços dentro de mim reaprenderam a conviver com os botões de rosa.

O hálito quente e ameaçador daquele que havia levado o gosto de ser,

Foi inundado pelo perfume fresco, suave.

E assim como chegou sem ser convidado, ele foi embora.

Fez questão de deixar o lugar marcado, para mostrar que ali fez morada.

E também lá está o sinal da minha luta e a inconfundível alegria da minha vitória.

Todavia, não estou imune a sua influência.

Sempre que sinto a sombra de sua figura aproximando-se, faço florescer minhas armas.

Feitas de cores, cheiros, sons.

Leveza essa que contrasta com a sua dura armadura e fria presença.

Agora sou mais forte, mais consciente de quem sou e do que quero.

Afinal, eu sou a esperança.

Ele era o medo.

Rafaela Alonso
Enviado por Rafaela Alonso em 07/05/2019
Código do texto: T6641438
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