Há que ter distâncias

Há no universo mais vazios que presenças,

assim nos ensina a Física e a Astronomia.

Entre dois átomos há, proporcionalmente,

a mesma distância que entre duas estrelas.

A ausência é portanto fundamental

para toda existência.

Como aceitar, então, que o amor

seja feito apenas de encontro

e de presença?

Distante, o ente amado é apreendido

em dimensões de outro modo impossíveis.

Suas virtudes são divinizadas,

suas imperfeições, anuladas,

seus traços, imortalizados na memória...

De longe, o ente amado existe

tal qual é por excelência... numinoso e numêmico.

A proximidade constante, como o excesso de sol,

é ofuscante, abrasadora, cancerígena...

De tanta luz, já não se vê mais.

De tanto calor, já não se sente mais.

E os erros proliferam desordenadamente,

sem serem mais percebidos,

até que comecem as dores terminais...

Há que ter distâncias no amor,

Há que ter... saudade.

A saudade está para o amor

como o vazio, para o universo.

Ela é matriz de existência,

nutriz de eternidade.

A saudade é, no amor,

o mais poético dos sentimentos.

Assim, meus amores, meus amigos,

nada temam de nossa separação.

Dêem-me, sem receio, sua distância,

que lhes darei minha saudade

e meu amor eterno.