O ARAUTO DA NOITE

O Arauto canta como mensageiro na escuridão, à luz da lua vem ao meu encontro – estrelas dançarinas vêm bailar à minha porta, eis aqui, mendigo e rei! Imperador do domínio do vazio! Fugindo dos monstros cósmicos e o apocalipse a entoar madrigais na madrugada! Dedicados às rochas e a areia, nas minhas mãos crio esculturas de barro – Ó, homem! Fruto de um cosmos insano e caos, os átomos não lhe favorecem…

Então enquanto surfamos, entre a onda e a partícula, transcendemos a matéria, entre o microscópio e a lenda das florestas, o bom selvagem é amigo de Cronos,

devora-se a si mesmo no desespero de uma vida finita. Ó, tolo! Conhecer não mais nos basta; todas as coisas podem cair em chuva ácida! Há insanidade nos templos da sabedoria, onde deuses bêbados se despem na noite a fim de fugir do último limite da vida! Enquanto isso, em universos paralelos, incontáveis destinos se repetem, para sempre, enquanto o Universo se contrai e expande - Dançai a dança do ventre, ó, musa da poesia! Quero-te hoje, como minha companhia, enquanto canto para ti nas dunas do deserto!

Quereis viver a vida eterna? Pensais que podereis viver em repouso, para sempre? Oh, não, pobres tolos; a existência é guerra, porém também é dança; a rapadura é doce mas não é mole; saboreai, sede duros, amigos! Trazei o vinho; também a viola; Portinari e Tarsila, ousai nas aquarelas! No instante em que o bardo cria sinfonias, nesta flauta de homem primitivo, seja a minha embriaguez… Assisti, meu caro. Vem curar este desespero no peito, convido-te; após abandonar todas as verdades eternas; que este único instante, qual cubo mágico, formando o perfeito desenho do yin yang,

perdure... Assim me entrego ao Novo Mundo, o Caos, à coreografia ao redor da flauta do Big Bang – serei pintura eterna, se reinventando… Por toda eternidade…