Insensível

O vento já toca diferente. O silêncio mostra o som para ele e a gente ouve.

O vento abraça mas já toca diferente. Mesmo estando na mesma frequência e no mesmo horário de sempre.

O vento passa, volta os nossos braços para o outro lado. Impulsiona os braços para abrir do lado contrário, abrigando diferentes energias e seus respectivos donos. Os donos que ficam por um tempo bom até, mas que logo após se soltam e saem.

Os braços se fecham de novo, justificando com dezenas de teorias cogitadas.

O vento continua passando e não tocando como antes.

Se pensa em talvez abrir os braços novamente, mas resiste. Espera o tempo do vento que continua a passar. E entende que a falta de toque seja algo necessário, mesmo que ainda não sabendo para quê.

Energias rondam, se aproximam, sinalizam e saem.

Saem de perto tentando deixar tudo amigável.

O que não é amigável para quem está de braços fechados, esperando o vento passar para senti-lo.

O vento continua a cantar, lançando vozes no escuro, levando tudo de leve que ele vê pela frente.

Mas quem está com os braços fechados continua sem senti-lo.

E um desespero toma conta, e os braços já sem movimento por causa do tempo que passou parado, desiste.

Desiste de virar para se abrir, desiste de esperar sentir o vento.

Passa por cima da vontade do fundo do peito e finge não existir.

O vento continua passando do mesmo jeito, na mesma hora, mas o corpo hesita em senti-lo.

Não é sobre o vento...