DICIONÁRIO DE TECIDOS & TEXTURAS

A alfaiataria é uma das profissões mais antigas. O tecido dá melhor caimento às peças segundo a matéria-prima utilizada na confecção da poesia.

Tecidos de fibras naturais possuem valor agregado. Não absorvem calor, são arejados, mas devem ser lavados a seco. Lavar poesia tecida em fibra natural mais de uma vez é arriscado, as pontas do poema podem ficar curtas ou longas e até deformar completamente a leitura. As texturas dos poemas fabricados com fibras sintéticas são duráveis e podem ser lidos inúmeras vezes sem prejuízo do acabamento.

Esse DICIONÁRIO DE TECIDOS & TEXTURAS é um convite ao leitor que deseje costurar novas alegorias em suas leituras.

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ALGODÃO – o caimento de um poema tecido em algodão depende diretamente da quantidade de fios. Um exemplo é a fina ironia e ambiguidade que são tecidas com 80 fios. O número exato de fios evita que o poema fique transparente mostrando o que não se deseja visto e ainda deixa à mostra o que precisa ser notado.

ALPACA: fibra leve de brilho suave. Tramada com lã dá em versos largamente usados em ternos e paletós.

BATISTA: tecido de nome ambíguo usado em poemas de algodão ou fibra sintética. Sua tessitura lisa permite versos livres e transparentes como lingerie, forro e lenço por ter caída sensual no corpo da leitura.

CETIM - alguns poemas são apenas acetinados e nem por isso de qualidade inferior; outros têm cetim apenas nas camadas do forro. Para vestidos de noiva recomenda-se o melhor cetim. Na composição de saias esvoaçantes em poemas de corte godê o cetim brilha em movimento.

CHIFFON - é levemente transparente e vaporoso. Poemas em chiffon sintético são mais secos. É um tecido leve, fino, tem peso que não chega a dar volume no bom caimento de poemas esvoaçantes ou godê. Em geral, é poesia que pede forro por ser de maleável releitura.

COURO: existem muitos tipos, seu aspecto áspero traduz a voz da pele com mais naturalidade em poemas casaco ou poemas jaqueta. Os veios e as deformações de uma peça em couro compõem versos curtos, reflexivos e complexos sobre a condição humana.

CREPE – o nome deriva do francês e significa crespo e pode ser encontrado em poemas de toque áspero, seco opaco. O crepe apresenta variedade de espessuras em poemas combinados em seda ou lã. O caimento da peça é maleável e pode variar de acordo com a escolha dos fios.

DEVORÊ - proveniente da França, o nome significa “devorar”. É uma textura criada através de processo químico que destrói parte da trama do tecido para criar relevo e transparência em poemas de temas variados. Os desenhos em relevo são geralmente florais ou arabescos e costumam ser aveludados quando aplicados em peças de tule, gazar, musseline, seda ou veludo. O caimento de um verso em devorê depende do poema onde está aplicado.

DEGRADÊ - são tecidos cujas estampas apresentam mudanças gradativas na tonalidade das cores passando das mais escuras às mais claras. É uma técnica de tingimento bastante utilizada, diversos poemas podem apresentar estampa degradê sendo que os mais comuns são os fabricados em musseline, gazar e alguns cetins com elastano. Por ser versátil, é usado em poemas casuais e em belíssimos vestidos de festa.

FORRO – são texturas usadas por baixo ou entre as palavras de um verso para criar múltiplas leituras, do acabamento ao volume. O uso de forro é indicado na composição da primeira saia de um poema transparente para que o toque de seda cubra suavemente a pele da primeira leitura.

GAZAR - acredita-se que o nome seja o mesmo da cidade de Gaza na Palestina onde teria sido criado. É fino, leve, transparente, arejado e pode ser composto tanto de 100% poliéster ou seda pura. O caimento do poema costurado em gazar é fluido e pode ser armado com facilidade porque tem movimento. É muito usado em versos de amor, estrofes revolucionárias, vestidos de noivas. Saias esvoaçantes e camisas com a gola mais estruturada lembrarão corpo de baile.

GABARDINA: poema sarjado, forte, com acabamento rígido, de peso médio a pesado, composto de fibras misturas.

JACQUARD – versátil e flexivo, é resultado do trabalho num sistema de tear automático desenvolvido por Joseph Marie Jacquard no final do século XVIII. Para criar os desenhos, uma série de cartões automáticos perfurados programa cada movimento do tear que pode usar fios metalizados ou seda ou fios de algodão. Devido esse tipo de entrelaçamento dos fios, a criação possibilita poemas com relevo, estampas coloridas e tramas complexas.

LÃ - fibra natural derivada do pelo das ovelhas e dos carneiros, muito usado em poemas agasalho, poemas abraço, poemas saudade. Poesia tramada em lã pura tem caimento pesado enquanto a fibra mista é mais leve e versátil em composições que não amassam numa segunda leitura. Dizem que na antiga Mesopotâmia já eram criados poemas em lã.

LUREX – esse tecido ganhou destaque nos anos 80, época em que o brilho estava em alta. No Brasil, a novela Dancin' Days popularizou seu uso. É fabricado com fios metalizados ou aplicações de glitter sobre uma base geralmente de malha. Um poema feito com fios de lurex não oxida, não perde brilho nem a cor mesmo sob a ação da umidade do ar ou suor. Poesia tecida em lurex terá o brilho da percepção que o leitor alcançar na luz refletida em sua superfície.

MALHAS - até o século XVI toda a produção de malha era manual, isso só mudou com a invenção de uma máquina de tricotar idealizada por Willian Lee, um pastor que queria auxiliar sua esposa na produção de tecidos. Poemas em malha são compostos por fios entrelaçados onde cada laçada entre versos dá forma ao poema ao passar dentro da laçada anterior sem que haja ponto fixo de ligação entre elas. É maleável, estica, não amassa. É um tecido que permite tanto poesia casual e peças íntimas como uniformes.

MUSSELINE - tem origem em Bangladesh mas recebeu este nome na cidade de “Mossul”, Iraque. Resulta em poesia leve, transparente, com toque macio e delicado. O MUSSELINE é usado na fabrico de poemas com fios de seda, acetato, viscose, algodão ou poliéster. A leitura é fluida já que o poema fica solto.

NÁILON: o termo foi marca registrada, hoje é utilizado para designar a fibra mais resistente que existe. Poemas tecidos em náilon têm aumentada a durabilidade da leitura no tempo.

ORGANZA - é leve, rígido e transparente. Pode ser feito de seda ou fibras sintéticas, é geralmente encontrado customizando bordados. Por ser extremamente armado, usa-se organza em poemas que necessitam de volume. Organza tem brilho, é indicado para compor saia por baixo da saia de poemas satíricos, irônicos e ambíguos.

PAETÊS - do francês pailleté é tecido coberto com lantejoulas. Sua primeira aparição em 1940 nas peças de Coco Chanel e Paul Poiret provocaram ondas de poesia moderna. As lantejoulas que compõem o paetê são feitas de vinil e a base onde são aplicadas pode ser tule ou malha. Lantejoulas aplicadas de maneira espaçada tendem a criar ritmo e leveza na composição de poemas rarefeitos de mistério.

POÁ - alguns estudiosos dizem que imigrantes do leste europeu o teriam inventado inspirados por um ritmo musical chamado Polka cuja coreografia era carregada de movimentos circulares; outros dizem que foi Walt Disney quando criou a estampa em 1928 para ser utilizada pela personagem Minnie. O fato é que em 1950 as ‘bolinhas’ fizeram sucesso e se consagraram como estampa clássica de poesia atemporal.

RENDA - existem dois principais tipos de poesia criada em renda: a de agulha, que é confeccionada dando-se laçadas com o fio em pontos e resulta em desenhos mais padronizados; e a de Bilros, que é formada pelo cruzamento sucessivo ou entremeado dos fios sobre o pique de um cartão onde está o decalque dos desenhos com a ajuda dos bilros (um artefato de madeira onde são enrolados os fios). Se existe um fio bordando o poema ele é renda. Os tecidos mais comuns onde se lê poesia em renda são os de algodão e poliéster que são bordados sobre tules e telas que podem receber pedrarias. A escolha no poema onde será aplicado o verso em renda pode determinar o caimento da leitura.

SEDA - fibra natural obtida a partir do metabolismo de um inseto que produz filamento de proteína contínuo, resistente e macio. É uma das matérias-primas mais caras do mundo, a seda é usada no fabrico de diversos tecidos como musseline e gazar. Possui excelente caimento em poemas que oferecem múltiplas interpretações – mas isso você já sabia.

TAFETÁ - originou-se na Pérsia, atual Irã, o nome deriva da palavra persa “Taftah”. Existe tafetá com ou sem elastano. A ambiguidade da poesia em tafetá arma, dá bom caimento e propõe reflexões. Pode ser mais leve ou mais volumoso dependendo da textura do poema.

ESTAMPAS - há diferentes técnicas de estamparia, o uso de blocos de madeiras é o método mais antigo usado pelos fenícios no atual Líbano e Síria. As estampas estão presentes em quase todos os tipos de tecidos, do algodão ao musseline, do crepe ao devorê e o chiffon. Estampas são encontradas em quase toda poesia.

TRICOLINE - construção em tela com finos fios de algodão mercerizado. A mercerização é o tratamento que dá aos versos aparência lustrosa e forte. Poema em tricoline é de fácil leitura, oferece conforto e absorve lágrimas.

TULE - surgiu por volta 1.700 d.C. na cidade francesa Tulle e desde 1.800 é utilizado nos figurinos de ballet. Versos entrelaçados no tule criam uma rede transparente, firme e estável. Os fios se entrelaçam de maneira espaçada tornando a trama mais aberta. O TULE confere volume e pode estar nas mangas de um poema ou por toda a peça.

ULTRASUEDE: luxuoso TNT lavável parecido com o suede. É produzido com fibras sintéticas obtidas por agulhamento. É usado no acabamento de poesia decorativa.

VELUDO - qualquer leitura que apresente aspecto aveludado pode ser considerada leitura de poema veludo. Existem os lisos e os cotelês, normalmente aplicados sobre trama de algodão, faz poesia aconchegante como afago mas um pouco pesada como abraço cheio de saudade. Independentemente do tipo de veludo, deve-se manter o poema longe do ferro de passar para evitar marcas irreversíveis.

VISCOSE - é a primeira fibra têxtil artificial criada a partir de um elemento natural que é o linter da semente do algodão. A viscose costuma dar poemas lisos e estampados. É leve, é fresca. É o tecido mais usado em poemas que versam sobre o “cotidiano tributável”.

XADREZ - já existia na Idade do Ferro. Há quem diga que é invenção de proprietários de terras na Escócia, que era usado para identificar clãs. A estampa xadrez pode compor tecidos de algodão, tafetá e chiffon. O andamento do poema tecido em xadrez depende do leitor, sempre do leitor. O xadrez nunca sai totalmente de moda.

SHANTUNG - tecido originário da província chinesa Chantung feito com fio de seda ou de poliéster, apresenta mínimas saliências como se fossem pequenos arranhões. Poema tecido em shantung é leve apesar de grosso, é bastante usado na poesia festa para confeccionar versos de saias dobradas em vestidos que simulam elegância.

ZIBELINE – o nome é de origem francesa encontrado em trama de seda pura ou fibras artificiais. A poesia estruturada em zibeline tem leve brilho acetinado, o ritmo da leitura é contínuo e firme. É muito comum encontrar versos em tons de branco sobrepostos em saias amplas. Também em vestido godê ou poema tubinho. O zibeline deve ser entretelado antes do corte para valorizar, na emenda das palavras, o disfarce da costura.

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Baltazar Gonçalves

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 19/06/2019
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