saudade ou medo de avião

do céu, vendo constelações mortas, concluo que olhar pra trás também pode ser bem bonito

daqui do alto enxergo palavras desenhadas nas estrelas, escondidas nos calafrios que só a altura e a consciência me fazem sentir.

“universo é a casa das estrelas” levo uma leitura à bordo

(existe algo em comum entre a altura e a maturidade)

eu ando aceitando termos de uso demais

e lendo muita bula de remédio

e arcando com os efeitos colaterais

talvez eu também seja um risco assumido pelos astros, sei lá

um corpo não celeste invadindo o céu numa geringonça de alumínio, titânio e aço inoxidável

tomando remédio para dormir e não perceber uma possível queda

o envelhecer me faz temer mais a vida (que é uma permissão da natureza) que a morte, que é uma exigência dela

procuro refúgio no passado pelas garantias que ele oferece

procuro abrigo no universo por sua proximidade com o infinito

e no brilho de estrelas mortas

eu risco o céu de noite

com a lembrança de aconchego d’um passado próximo

na esperança de pousar num novo lugar seguro.