completamente ambígua

sentir o ar gelado tocando cada célula de revestimento do meu corpo. os pés tocando o asfalto gélido. e o tecido da camisa tocando minha pele. uma vez na filosofia aprendi um exercício que consiste em sentir o próprio corpo, sentir a pele, sentir o sangue fluindo pelas veias, e o calor se alastrando. se sentir como uma bola luminosa e quente. não tinha paciência pra isso, não tinha vontade de entender minhas entranhas confusas e complexas. às vezes ainda acho que não tenho. eu penso demais, até mesmo quando calma. e meu coração está sempre acelerado, com o ar faltando nos pulmões. mas hoje o céu estava azul com tons rosados enquanto aguardava o ônibus. lembrei do sorriso dela e a sensação de olhar minha cor preferida no céu é quase que identica a sensação do toque na minha pele.

senti o vento batendo nas folhas ao lado, e lembrei do que existe e do que não existe. e que tudo é incerto, mas talvez essa seja a graça da vida em si. e talvez, só talvez, de fato a minha existência seja melancólica, e minhas entranhas choram e se contorcem, e meu cérebro é como um labirinto conflituoso. minha pele é marcada demais, áspera, quente e fria, completamente ambígua.

faz tempo que não escrevo.

caroltell
Enviado por caroltell em 23/07/2019
Código do texto: T6702483
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