Marinheiro

Na topografia azul escura do oceano é possível ver um barco, um único tripulante flutuando à deriva de sua imensidão, sem remos que o deem a capacidade de escolha para se deslocar a alguma salvação em terra firme. O vento é incerto, coordenadas esquecidas e direções embaralhadas retém de opções e resultados dos esforços que agora não aparentam ser nada além de instrumentos de traição arquitetados por seus próprios instintos.

Rebobinado aos dias em que era permitida apenas a observação em sua infinidade que ia além do que os olhos eram capazes de enxergar, paragrafando fragmentos de imaginação que escrevia as histórias de seus mistérios: Por qual motivo escolhera censurar sua própria profundidade? O que seria visto do outro lado se, de alguma maneira, fosse possível alcançar o seu “fim”?

Noites intermináveis em que se sentava a beira do caís, compartilhando segredos e sentimentos com aquele pedaço de natureza que mais esbanjava vida em suas cores que qualquer outro organismo que existia além de suas ondas, trazendo e levando embora o que eram desenhadas de memórias em sua mente de superfície branca, intocada e imutável.

Despediram-se rapidamente os anos que o algemavam de seus desejos, queria ser amaldiçoado com o perigo em troca de algo novo, e quando tivera a oportunidade em suas mãos, conseguira tudo o que queria sem o usual pesar dos arrependimentos. Teve de afogar inúmeras vezes para primeiramente aprender a nadar, mas sabia que valera a pena, pois sentia a certeza de seu pertencer ser assegurada de que aquela nova estranheza era o centro de uma concreta e pura beleza.

Mas o belo que sentia transbordar suas emoções era um perfeito disfarce para mais uma típica decepção, mais uma vítima do que a tirania do tempo pôde transformar em tédio, monotonicidade e em insignificância que extrapola os limites do tolerável. O mar já não projeta paixão em suas ondas, a luz solar já não banha sua epiderme úmida, densa e refletida em transparência. O marinheiro destes sonhos é consumido pelo desespero gentilmente crescido na intuição de suas ações, prendendo-o em sua ambição, silenciando não a sua voz, mas suas palavras.

Daniel Yukon
Enviado por Daniel Yukon em 23/07/2019
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