Aguas
Como poderia eu desculpar o teu acto triste, desolado e incontestável....
Deitas-te na profundeza do oceano feito navio submerso, objecto perdido para lá do tempo os restos que me sobravam.
Soterraste a minha imagem de dor e melancolia, apatia que me gasta e desgasta e envelhece da noite para o dia, ficando afogada em mágoas que não passam, que não se esquecem....
Faca que me atravessa o corpo pelas costas... Eu não aguardava esse minuto, esse segundo que mudaria a minha alma e a viraria do avesso...
Estou sem nome
Sem terra
Flutuando entre este rio, e aquele oceano imenso, debatendo-me com rochas, maremotos e bichos...Feito planta, pedra, barco desaguando no nada, feito vela desfeita afundada na terra.
Águas me levam e me trazem
Sem horizonte definido
Queimada pelo sol
Marcada pela chuva
Lançada ao vento
Feito pássaro que não sabe voar....
Deixo-me ir
sozinha
Triste...Tão triste...
Afogada nas ondas a que me atiraste para sempre.•
Lisboa 05 Junho 2005