Aguas

Como poderia eu desculpar o teu acto triste, desolado e incontestável....

Deitas-te na profundeza do oceano feito navio submerso, objecto perdido para lá do tempo os restos que me sobravam.

Soterraste a minha imagem de dor e melancolia, apatia que me gasta e desgasta e envelhece da noite para o dia, ficando afogada em mágoas que não passam, que não se esquecem....

Faca que me atravessa o corpo pelas costas... Eu não aguardava esse minuto, esse segundo que mudaria a minha alma e a viraria do avesso...

Estou sem nome

Sem terra

Flutuando entre este rio, e aquele oceano imenso, debatendo-me com rochas, maremotos e bichos...Feito planta, pedra, barco desaguando no nada, feito vela desfeita afundada na terra.

Águas me levam e me trazem

Sem horizonte definido

Queimada pelo sol

Marcada pela chuva

Lançada ao vento

Feito pássaro que não sabe voar....

Deixo-me ir

sozinha

Triste...Tão triste...

Afogada nas ondas a que me atiraste para sempre.•

Lisboa 05 Junho 2005

Joana Sousa Freitas
Enviado por Joana Sousa Freitas em 04/11/2005
Código do texto: T67318