Repetido-Subitamente só

Sem as forças da manhã

Que me acompanharam algures no tempo

Tempo que se foi

Me deixa hoje muda...

Sem gestos

Acanhada nesta cama com o que resta do teu cheiro

Embrenhada na mágoa que me preenche

Que me dissolve

Me fomenta

Me consome

Alimento-me dos teus cheiros

Bebo da memória dos teus olhos

Procurando sobreviver

Cansada

Flutuando neste vácuo que me trespassa por inteiro

Inerte

Apurando os sentidos na esperança que estes me tragam um pouco de ti

Do que me sobra

Dos restos que ficam nas essências desta casa.

Fruto da tua ausência que se prenuncia sem palavras

Nas paredes

Nas cartas velhas e gastas

Nas fendas desta velha casa

Que não abandono mesmo à força do desespero

Porque aqui ficam as feridas que abriste

Aqui permanecem rasgos intemporais teus

E se partir

Alguém os consumirá, alguém que não eu

E tu pertences ao mesmo espaço que eu...

O sol nasce vago

O dia nasce vazio

Sem horas

Sem mais momentos que me renasçam...

Levaste-me contigo esta noite que passou....

Noite que me abandona o corpo

Me rouba a alma

Me renuncia

Me empobrece

Me deixa subitamente só

Joana Sousa Freitas
Enviado por Joana Sousa Freitas em 04/11/2005
Código do texto: T67321