Cão vadio
O planeta dá voltas em torno de sua estrela solitária e aqui estou eu deitado nesta velha cama sem sono e sem nada para fazer. É madrugada lá fora e meus pensamentos flutuam em um mar de dispersão e acaso.
Sinto-me com um cão vadio sem forças para latir.
Os ossos parecem querer furar a carne que recobre meu corpo. Desloco-me até a janela de meu quarto. Olho para baixo e vejo um mundo. Os sons da grande metrópole invadem meus sentidos. Um pneu cantando, latidos e barulhos os mais diversos. Um fluxo de significantes sendo construido independente de minha existência.
O sono não chega, mais algumas horas e o dia amanhecerá. Uma torrente de coisas perdidas em minha memória: uma pipa no céu, perfume com aroma de cereja, um banco de praça solitário, um copo de
cerveja com marca de batom.
Não consigo dormir. É hora de voltar para as ruas.