Cão vadio

O planeta dá voltas em torno de sua estrela solitária e aqui estou eu deitado nesta velha cama sem sono e sem nada para fazer. É madrugada lá fora e meus pensamentos flutuam em um mar de dispersão e acaso.

Sinto-me com um cão vadio sem forças para latir.

Os ossos parecem querer furar a carne que recobre meu corpo. Desloco-me até a janela de meu quarto. Olho para baixo e vejo um mundo. Os sons da grande metrópole invadem meus sentidos. Um pneu cantando, latidos e barulhos os mais diversos. Um fluxo de significantes sendo construido independente de minha existência.

O sono não chega, mais algumas horas e o dia amanhecerá. Uma torrente de coisas perdidas em minha memória: uma pipa no céu, perfume com aroma de cereja, um banco de praça solitário, um copo de

cerveja com marca de batom.

Não consigo dormir. É hora de voltar para as ruas.

Jota Alves
Enviado por Jota Alves em 29/09/2019
Reeditado em 29/09/2019
Código do texto: T6756887
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