Solidão (Chico Buarque de Holanda)
Releio Solidão, por Chico Buarque de Holanda
Naturalmente que não consigo conter uma lágrima.
Ela escorre pelo meu rosto, mesmo contra meu desejo
Solidão não é a falta de gente para conversar,
namorar, passear ou fazer sexo...
Isto é carência
Então, estou profundamente carente.
E assumo isso.
Solidão não é o sentimento que experimentamos pela
ausência de entes queridos que não podem mais
voltar...
Isto é saudade
Morro de saudade de algumas pessoas que sei, não mais verei.
Partiram para sempre.
Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe
às vezes, para realinhar os pensamentos...
Isto é equilíbrio
Mas pode ser fuga ou então falta de opção para justificativa do momento doloroso.
Pode ser busca de caminhos alternativos para vivenciar a dor.
Solidão não é o claustro involuntário que o destino
nos impõe compulsoriamente para que revejamos
a nossa vida.
Isto é um princípio da natureza
Podemos também chamar de destino.
Inevitável?
Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado...
Isto é circunstância
Antes quase nunca acontecia.
Hoje esse tipo de solidão é maior. O planeta está desumanizado.
Solidão é muito mais que isto.
Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma.
Solidão, saudade, carência, equilíbrio, destino, circunstância... não importa o nome.
Mas dói.
E dor é dor...
E dói, qualquer que seja o nome dela!