Descoberta
meu olhar te descobriu sob a forma de concepto e meus dedos tatearam o teu contorno oval no bojo baixo e pontiagudo.
eu te sentia ser, invisível ser, não-ser incógnito, massa indefinida não sei de que instâncias extraída, não sei nem de que poções misteriosas concebida.
eu te sabia, sim, assim guardado - noite - esperando a tua hora de nascer, doce raiar do sol mais belo da existência, inesperada chuva de verão que cai e passa deixando um rastro de alegria e espanto.
pequeno ser, pequeno defensor, defendendo com coragem incrível a vida que ameaçou te abandonar, superando tensões e sufocando gritos, tão grande o teu poder dentro de mim, tão grave a tua presença.
eu já te amava e por nada queria te perder; só não te entendia porque não te conseguia ver, porque não te conseguia compreender em mim presente e nem te conseguia sequer ainda dizer - meu filho... - tão aterrador o meu silêncio ante você, tão maior que o silêncio a doce magia da tua atenta espera.
heitor - 23-28/II/1973