Costura Retalhos
Somos feitos de pedaços todos, como um mosaico.
É um mosaico de fragmentos de outros tantos mosaicos. É um monte de pedaço grudado, colado, costurado; fragmento aqui, fragmentado de lá, com rachadura, fissura ou quebradura. Uma peça mais polida, outra mais bruta; uma mais colorida e outra mais opaca. Assim é que somos.
Percebi hoje um pedaço de meu mosaico, uma peça minha de retalhos costurados do meu irmão e de alguma coisa que acho que já era meu. Um riso largo, alto, cheio, todo projetado pela sala e ecoando no resto dos cômodos. O menor retalho era o meu. O retalho que costurei do meu irmão tinha um grande retalho da minha mãe e outro retalho dos carnavais em que esteve com seu pai pelas baterias de escolas.
Puxei mais uma peça, outra costura com vários retalhos de meus amigos: a simpatia de um, a responsabilidade e cobrança de outro, o entusiasmo de fulano, as crenças de beltrano, os erros de cicrano, o talento de algum, a paciência de alguém, o silêncio de ninguém... Um mosaico com retalhos de todas as histórias, um pedaço meu outro dos amigos.
Estava assim uma cortina inteira pendurada pelas minhas janelas, formando um vitral incógnito de todos que conheci e conheço, com tudo o que vivemos, entre alegrias e tristezas; nas emendas das costuras passavam fios de luz. Não havia desenho algum, só o filtro da cortina cheio de todo sentimento e toda história que só podia ser vista quando se chegava bem pertinho.
Defino era só um esboço na cortina, um contorno quase preciso de mim, mas com as bordas a novos retalhos e nossas costuras.