Raiva e frustração

Eu diria que se parássemos um pouco e avaliássemos todas as coisas que aconteceram na semana anterior ao dia que a raiva se apoderou de nós, saberíamos bem o porquê de tal fato. Mas a memória falha e as lembranças não vêm por completo. Dito isto, cabe a gente culpar o que aconteceu ontem ou alguma coisa negativa já conhecida por nosso consciente. Tipo, o “não estar no emprego dos sonhos” ou o “não ter o amor dele”.

Não sei em vocês, mas em mim a raiva vem como um impulso. Ardente. Eu a sinto em mim, fervendo. E, por sentir a raiva como impulso, a frustração sempre é certa. Por que? Porque quase nunca se segue tal impulso. Você não quebra a cara do seu professor que te deu nota baixa. Você não rasga o livro quando o final dos personagens não foi o que você queria. Bom, imagino que não o façam. Caso faça, aconselho terapia e diálogo com quem você gosta.

Mas e quando o sentimento raivoso surge num determinado dia por conta de uma frustração advinda do não poder exercer sua vocação? Isto resulta numa fórmula simples: frustração + frustração. E isto é arrasador. Te faz não ver sentido na alegria. Te faz não ver sentido no amanhã e nem no agora. Você atua de forma grosseira com gente que não tem nada a ver com isso, e vai seguindo o dia tempestuoso. Essas pequenas ignorâncias meio que suprimem a vontade de agir, suprime aquele impulso que eu chamo de “raiva”. Você desconta em quem não tá nem aí.

Seria linda eu dizer, agora, que as desculpas depois de tais atitudes são fáceis e magníficas. Mas quem disse que você quer pedir desculpas? Você até quer, mas o impulso ainda está lá. Você ainda não consegue ver sentido nas coisas boas. Alegria? Pra quê? Amor próprio? Eu nunca o terei mesmo. Está em comunhão com o universo? Que o universo vá pra...aí já viu.

Por que agimos assim? É uma boa pergunta. Eu só sei que a linha de vida “good vibes” é atraente, porém muito difícil de ser seguida. Pois tudo começou numa sensação de impotência. Tudo começou numa sensação de medo de nunca chegar no ponto que você quer chegar. E não. Não é apenas querer e seguir em frente. Claro que também é isto, mas não é só isto. Meritocracia é uma ignorância de quem já chegou onde quer estar e se acha no direito de se afirmar como a regra. Não basta querer. E fazer não é simples. Você tem que conseguir meios de fazer acontecer.

Será que existem uma forma de conseguir meios de fazer acontecer? Isso eu não sei. Mas sei que há algo a se fazer. Ficar parado não vale, não é nem uma opção. Claro que você pode não conseguir, e esta possibilidade te mata de medo, eu sei. Mas tentar é essencial. Afinal, como você ganhar na loteria se nunca joga? Como você vai conseguir realizar o que quer sem esforço? Claro que, dependendo de onde você está nesta sociedade odiosa, vai ter que se esforçar mais que os outros. Mas, se é que há algo de bom nisso tudo, é que você vai se fazer mais forte. Tenta. Eu também vou tentar “tentar” mais. Será que vamos conseguir? Não sei. “O se é um tempo que não existe” e o futuro é só um presente que ainda não chegou. Vamos viver o hoje e tentar, sempre.

Pedro Samuel Nascimento
Enviado por Pedro Samuel Nascimento em 29/11/2019
Reeditado em 29/11/2019
Código do texto: T6807030
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