"Ritmo (des) conexão"

Adormeci. Só me lembro que cerrei os olhos para amenizar a minha dor, e o sono – como em passos lentos – foi me invadindo. Depois, percebi que não mais era dia e nem noite, era apenas o sono, nada mais à minha frente. Vazio inesperado, sem ruídos – nem vozes e nem passos.

Ainda sentia as fortes dores abdominais, suava frio e meus gemidos eram intensos. Eu escaldava em febre, delirava vendo bichos que rodeavam o meu quarto. Por diversas vezes eu tentei gritar, mas minha voz não saia. Subi alto na minha dor, suplantei-a; mas mesmo assim eu a sentia.

Acordei. Lembrei-me de tudo, mas nada fiz para que pudesse esquecer: eu quis reviver! Dirigi-me ainda estonteante até o chuveiro, onde deixei que a água fria me consumisse vorazmente. Eu já não ardia em brasa, fumegava. Não sentia a dor, sentia-me leve, purificada e fortalecida.

Agora, a minha volta, música. Dancei! Ininterruptas horas a desvairar-me no “tuntz-tuntz”. Deixei o meu suor percorrer meu corpo: da boca ao umbigo, era o meu legado – a alma.

Cai cansada sobre um corpo de plumas. Ri desconexamente. Não tive tempo de te procurar, nem de sentir sua ausência; e novamente adormeci.