Servo do Silêncio

E eu me pergunto a quem serve este fôlego mancheio

Já que não me impede nem me impele força no peito

Tantas vezes ele, seu receio, cruza contra meu canto

Nada sobra por onde chego nem marca o que deixei ao meio

Bem, entre os dias de inverno, estive oculto

De jardins encerrados por mudos e escuros muros

Mas assegurava comigo mil motivos de festim

E mais um mundo inteiro de tolo orgulho em mim

Então a chuva lavou minha tinta, meu suave tom

A maquiagem fina, expondo minha viva cortina

A neblina que me cobria, meu delicado batom

E meu amor de mentira, a minha obra mais divina

Revelaram-se meus odores podres, minha doença

A minha arte da vida fatalmente prostituída

Envenenada minha voz ativa, ela enjeitada na partida

Sobrando-me a amiga antiga, a descabida malquerença

Retornam meus pés à casa, —"Bem-vindos",

Ao subsolo em terra eira, onde habito

E guardo tudo o que é estilhaço e sentidos

Em uma vermelha caixinha rasa, comigo

H Reis
Enviado por H Reis em 06/12/2019
Reeditado em 06/12/2019
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