Servo do Silêncio
E eu me pergunto a quem serve este fôlego mancheio
Já que não me impede nem me impele força no peito
Tantas vezes ele, seu receio, cruza contra meu canto
Nada sobra por onde chego nem marca o que deixei ao meio
Bem, entre os dias de inverno, estive oculto
De jardins encerrados por mudos e escuros muros
Mas assegurava comigo mil motivos de festim
E mais um mundo inteiro de tolo orgulho em mim
Então a chuva lavou minha tinta, meu suave tom
A maquiagem fina, expondo minha viva cortina
A neblina que me cobria, meu delicado batom
E meu amor de mentira, a minha obra mais divina
Revelaram-se meus odores podres, minha doença
A minha arte da vida fatalmente prostituída
Envenenada minha voz ativa, ela enjeitada na partida
Sobrando-me a amiga antiga, a descabida malquerença
Retornam meus pés à casa, —"Bem-vindos",
Ao subsolo em terra eira, onde habito
E guardo tudo o que é estilhaço e sentidos
Em uma vermelha caixinha rasa, comigo