Valão em Aqueronte

Deixa dizer uma coisa:

Vão à frente os tambores, o borbulho,

E não haverá enfim forte

Ou represa que corte

A torrente imensa que é o meu orgulho

Sobra o veneno ácido que arrasta fundo

Cada momento terno,

Toda sensação de inferno,

Que grava e cozinha meu corpo imundo

A besta que significa, hermenêutica,

Em lápides azedas,

Os corpos nas gavetas

Do cemitério multiforme desta eidética

Eis que sou este orfeão, este sino,

Esta chaga ensopada

E em sangue fadada

À corrosiva poção de declínio

Vou arrostando teu leito de súbito,

Protelando o cenário único

De um comum destino trágico

Numa dourada taça de conteúdo barbitúrico

H Reis
Enviado por H Reis em 06/12/2019
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