A canção das Ondas

Me sentei as seis horas da tarde no topo de uma duna.

Contemplei a paisagem por um breve momento,

Sem me distanciar das razões que me levavam ali.

A areia era branquinha, suavemente espalhada sob meus pés pelo vento.

A lua governava o firmamento abençoando o mar com sua pálida luz.

Sozinha, esperarei tranquilamente que ele viesse,

Olhando fixamente para o balanço do mar.

Tudo parecia calmo, até meu coração encontrava a calmaria naquela visão azulada.

Estava ali por indicação do finado Antônio de Mel e pelo meu desejo de aprender a doutrina do cabôco Hilto.

O velho pai de santo me disse que eu aprenderia ao escutá-lo nas ondas do mar.

O encantado cantaria para mim numa melodia mais doce que a brisa.

Me disse também que era preciso ser numa quarta-feira e numa sexta-feira.

Não duvidei disto nem por um instante.

Então eu fui.

Foi assim que do alto da duna ouvi o cavaleiro cantar por entre as ondas e preparei o coração para sua canção.

O céu estrelado enfeitava sua voz macia. As ondas cessaram seu barulho para que sua voz reinasse na imensidão daquela praia deserta.

Naquela noite eu aprendi seu canto que diz assim:

“Que lá no Mar não tem canoa,

Passarinho voa, pássaro voador.”