O CUBO NEGRO - A CAIXA PRETA

Olho para o suposto horizonte indicado pelo meu dedo que aponta e não encontro qualquer fronteira, nada que se possa tatear de perto, nenhum marco de pedra que sirva de referência para a vida inteira.

Nossa trajetória é feita de horizontes transitórios, não caminhamos em círculos como anunciava o dito popular, nos orientamos pela terra em órbitas elípticas espiraladas, as vezes percorrendo labirintos e seguindo as sombras dos nossos fantasmas.

Olho para esse suposto chão debaixo dos meus pés com a sua suposta estabilidade e me recordo que mesmo quando estou em repouso dormindo ou meditando, algo dentro de mim ainda se move, do fluxo do sangue às sinapses, do plano do espírito ao mundo das ideias.

Sem poder confiar na firmeza do chão ou nos horizontes transitórios, fecho os olhos para a interpretação que eu faço do mundo visível, as paredes ao meu redor já não são tão sólidas quanto aparentavam ao meu toque.

Agora mais próximo da esfera do silêncio, do ouvido interno, dos perfumes e dos aromas, sem olhos, sem corpo. Num piscar de olhos se abre um mundo intangível, aparentemente sem fronteiras, uma câmara escura para revelar memórias. Escuridão particular envolta em mistério, nenhum lugar para ir, nenhum guia, somente estar consigo.

Acima a imensidão e abaixo a imensidão, dentro e fora, visível e invisível. As palavras são horizontes transitórios, a ciência é efêmera, a religião não pode me salvar, a filosofia é um abismo. Filosofia não enche barriga, assim como o amor não enche o coração, são figuras de linguagem...

É fácil fácil filosofar quando não se tem contas pra pagar, é fácil dar palpite de como as coisas devem funcionar quando não se trabalha dentro do mecanismo a fim de se alimentar para sobreviver mais um mísero dia, é fácil lançar um olhar de uma esfera mística para os mortais aqui debaixo, é lucrativo semear ideologias... a mão invisível do mercado, a suposta existência do estado...Deus...

O meu melhor amigo imaginário, o mais famoso e o mais enigmático de todos, tão perfeito que criou humanos só para variar um pouco, só pra ver o que ia dar.

Com a ETERNIDADE aos seus pés é fácil adquirir SABEDORIA, fácil de se chegar a perfeição, não houve esforço para criar tudo, nem tensionar as órbitas dos mundos, o mais difícil é aceitarmos a SOLIDÃO, nós aqui na terra e ele na imensidão, por isso em algum momento houve a divisão, a divisão no céu, a separação dos elementos, houve fogo, ouve bala, houve uma grande explosão, surgiu então a guerra juntamente com o seu Deus e também a estratégia.

A paz... o quão bela era a paz...

Então os homens inventaram a diplomacia, a dissimulação, o diálogo, a dialética e nos tornamos assim os seres híbridos que somos, percorrendo um trajeto peculiar temporário entre o céu e o inferno, reunindo no plano humano um pouco do divino e do diabólico.