Apenas saiba que...

Intensifica-se a moção das paredes, a constância da claustrofobia floresce em cada fragmento de célula, poro e respiração.

Os padrões enlouqueceram, nada que digam além da mesma confusão além da possibilidade de ser codificada, compreendida e replicada.

O sonho se despedaça em minúsculas partes, cenas catastróficas rebobinadas como um último vislumbre de uma vida apagada tão subitamente, inesperadamente e despropositadamente.

Esta destruição observada de longe é um espetáculo inesquecível, uma graça de ver como os mínimos detalhes foram nada além de dominós impulsionando a queda dos outros.

Escrever já não ajuda mais,

Resistir é atrasar o que

Vem certo nos passos

Lentos e mortais de

Um futuro carrasco.

Em minha inabilidade de decisão, congelo-me no momento em que vejo todas as minhas possíveis saídas.

Cego, desamparado,

Tolo, dúbio, entorpecido,

Puro, incerto, efêmero,

Apagado, exausto, abandonado.

Mas apesar de tudo, você é minha amiga, uma doce exceção, a parte brilhosa, quente e segura de toda esta mórbida poesia que me assombra a ser o centro de suas metáforas.

Seus sorrisos convidativos e chamados irresistíveis, estas serão as mais dolorosas ausências que terei a capacidade de recordar dia após dia em que sou revelado pelas piedosas luzes de limitados amanhãs de minha pertença.

Saiba que sempre fora um universo infinito e em expansão de palavras que nunca pude lhe dizer.

Saiba que fugiríamos para seu país favorito, viveríamos em esconderijos, viveríamos escondidos se eu pudesse fazer tudo de novo, da maneira correta, da maneira apropriada.

Saiba que fora você, é você, sempre será você, ninguém além de você.

Você irá crescer,

Conhecer outras pessoas,

Aprender a ser

A eterna constelação

No céu de outro alguém

Que estará aqui

Para observá-la, cuidá-la

E edifica-la quando não houver

Razões para seu brilho.

Rachaduras se abrem passeando pela minha decadente pele, de pedaço a pedaço, despojo o resto de mim nos versos que lhe presenteio como única lembrança minha.

Saiba que você ainda ecoa em todas as dimensões de minha mente, uma voz inegável vagando pelo alicerce de ruínas cobertas em poeira, escombros e expiração.

Apenas saiba que não estarei mais aqui para ver o seu rosto.