"Ás de Mapa"

Tenho "ás" de ser sozinha

Nascida em fase minguante

Filha da lua, água que pariu

Carrego comigo a beleza do incompleto.

Tenho "ás" de ser só minha

Somente,

Unicamente minha.

Dada às delícias da carne

Quase que por vocação

Signo de escorpião

Sou par de mim mesma.

Tenho "ás" de alma nua

Despida,

Desvairada,

Desnuda,

Refém dos desejos que me tornam livre.

Tenho "ás" de ser

Apenas ser.

Existir nunca me bastou.

Como a ânsia precoce do rebento que nasce

Que chora em solitude,

Em nudez,

Em dependência,

Em desconforto.

Tenho mais "ás" que deveria ter

E ainda rogo o exagero da vida

A vocação libertária e destemida

O sentimento açucarado que transborda.

Tenho "ás" de ascendente em fogo

Planetas, casas, constelações

Vivendo a avidez do improvável

O tédio medonho do imutável

Desse mercúrio abrasador em sagitário.

Dane-se que sou sozinha

Tenho a palavra amiga minha

Consulto o horóscopo e a fé que guia

Rememoro a fluidez do meu eu.

E no verso em prosa que o papel ambiciona

Vou tocando a alma

Como se fosse Bethânia

E ainda ouso por assim dizer:

Faço o que posso, o que quero, o que ambiciono

Contemplando o mundo de "ás" que ainda desejo ter.

Lívia Couto
Enviado por Lívia Couto em 29/01/2020
Reeditado em 29/01/2020
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