"Ás de Mapa"
Tenho "ás" de ser sozinha
Nascida em fase minguante
Filha da lua, água que pariu
Carrego comigo a beleza do incompleto.
Tenho "ás" de ser só minha
Somente,
Unicamente minha.
Dada às delícias da carne
Quase que por vocação
Signo de escorpião
Sou par de mim mesma.
Tenho "ás" de alma nua
Despida,
Desvairada,
Desnuda,
Refém dos desejos que me tornam livre.
Tenho "ás" de ser
Apenas ser.
Existir nunca me bastou.
Como a ânsia precoce do rebento que nasce
Que chora em solitude,
Em nudez,
Em dependência,
Em desconforto.
Tenho mais "ás" que deveria ter
E ainda rogo o exagero da vida
A vocação libertária e destemida
O sentimento açucarado que transborda.
Tenho "ás" de ascendente em fogo
Planetas, casas, constelações
Vivendo a avidez do improvável
O tédio medonho do imutável
Desse mercúrio abrasador em sagitário.
Dane-se que sou sozinha
Tenho a palavra amiga minha
Consulto o horóscopo e a fé que guia
Rememoro a fluidez do meu eu.
E no verso em prosa que o papel ambiciona
Vou tocando a alma
Como se fosse Bethânia
E ainda ouso por assim dizer:
Faço o que posso, o que quero, o que ambiciono
Contemplando o mundo de "ás" que ainda desejo ter.