Apenas ontem
A melodia flutuou, fugiu de minhas mãos e passeou entre as paredes do quarto o qual resido preenchendo seu vazio com as palavras de mim.
Seu eco ininteligível
É o lembrete de que
Perdi a compreensão
De todas as línguas
Além da que falo
Entre os diálogos de
Meu cultivado silêncio.
Conversas incompletas, intermináveis e intangíveis de minha mente. É o que a sustenta e a mantém viva.
Recordar é dependência de sobreviver com os termos de agora.
E o agora se sucumbe em seus próprios infortúnios como uma harmonia enferma que beira a mudez.
Porém imito-a em minha fraqueza, delírio de ver que não tenho mais controle em criar efêmeros refúgios. O sonhador está encurralado na desilusão e no conforto de seu cul-de-sac.
Fugir é um lar
De incerteza que
O amanhã será
Uma brecha de
Definitiva salvação.
Da janela, bolhas e nuvens adornaram a paisagem. Lágrimas escaparam, o fôlego se apreendeu em minha vista maravilhada. Os astros ganharam novamente suas locomoções. Fui uma criança perdida entre as nuances e constâncias que aconteciam em ciclos formando sua imensidão.
O que faria, falaria e sentiria em meu lugar?
Você deveria ter visto o dilúvio extinguir o incêndio que comecei. Você deveria ter ficado para ver como desvanecia rápido a fumaça no céu que abrigara suas fatídicas cores. Você deveria ter feito muito mais do que tenho a disposição para escrever em lamentos e metáforas ao que nunca pôde encontrar realidade fora de meus versos.
O universo agora é insólito. Vago em desamparo entre o escuro e conformidade.
Este individualismo momentâneo me presenteia o equilíbrio que necessito. As razões são visíveis e esclarecidas em minha cegueira. Meu tempo se expirou juntamente à minha espera.
Passos firmes, decisões confidentes. Entre as minhas formas de saída desta inércia, estou enfim pronto para abrir a porta.