Tereza encontra Gregorio

Tereza encontra Gregorio; ou foi por ele encontrada, durante a crise pela queda de potássio, o que provocou um surto, que teria levado a mulher desta para outra (a gente nunca sabe se será para a melhor...), caso não trazida pelo marido e a filha ao pronto-socorro. Pelo sobrenome do médico Jeraissati Tereza lhe pergunta :

- Você é árabe

- Não

- Italiano

- Não

- Judeu

-Não

- Então, o que?

- Húngaro

- Nossa!

Dois dias depois, Tereza e Gregório partem para a Romênia, onde vivem tórrida paixão. Desmentindo ou confirmando o surto de Tereza?! Até hoje ninguém pode dizer, mas para Rafael e os filhos deles, ficou o surto de Tereza que, ao retornar, continua Tereza, para Rafael, e para a família, que juntos criaram. Mas, voltando à história, Tereza e Gregório (en) tornam em festa. Na viagem, cama desarrumada, não importa se aqui, se acolá; e suas mesas paladinescas, deliciosas, pois Gregório, paixão pela cozinha. Meses depois, chegam arrasados. Uma vasta devassa. Possuidor de olhar capitaneano, Gregório tenta proteger Tereza,a mulher que ama como nunca outra antes, pois bem, Gregório tenta proteger Tereza dela mesma

- Vem me encontrar, suplica

- Não

- Vou te encontrar

- Não

- Vamos comer a feijoada que tanto gostamos, na quarta?

- Sim... (olhinhos negros brilhantes, sentindo na boca mil sabores)

- E que tal voltar às práticas de tai chi no Trianon, nas terças e quintas?

- Sim.. (e Tereza mexe o corpo, inconsciente, vendo em imagens o grupo anônimo como que em sonhos, naquele parque mágico se movendo junto, movimentos orientais das silenciosas lutas marciais)

E os dois se encontram ali no parque, em silêncio, e ali sentados no banco de madeira, e virando a cabeça, e olhando para Tereza, longamente, sem se dar conta, Ricardo sorri embevecido, e em alegrias antecipatórias, distraído nela bem ao seu lado, esfrega e esfrega as mãos, e quando cai a folha seca em seu colo Ricardo a pega, e cheira como se rosa, e a entrega a ela

Gregório nunca entendeu porque Tereza não ficou com ele. Quer dizer, começou a entender que Tereza jamais deixaria Rafael e sua família. Quando em Ventania, moravam os dois, com os filhos pequenos, no vasto sítio do Tio Paulista. Uma extensão com a casa principal, dando para a Rua Rio Branco, com a parreira, ao lado, a horta, nos fundos da cazinha, o galinheiro e o amplo pomar, tendo aos fundos o ribeirão de água cristalina, com o poço de lama branca, na verdade, cerâmica branca, que as crianças costumavam escavavar, fazendo esculturas como bonecos e panelas. Ali Tereza foi criada com os irmãos, e depois criou os filhos, Marieta e Renand. Tereza e Rafael, quando casaram, construíram a casa com varandas, perto do ribeirão Pissarrão, e dali escutavam os pássaros e o cantar do ribeirão. Entravam pela Rua dos fundos, que dava direto para seu mágico jardim. Não era apenas Rafael e os filhos que Tereza não deixaria para ficar com Gregório, era toda a família maior.

Gregorio realmente ficou apaixonado por aquela mulher negra, escritora e alegre, que tivera durante os quatro meses europeus. Chegaram a passar na Romênia um inverno com lareiras acesas e o vinho, junto às refeições. Mas quando retornam, Tereza foi direto para casa, e nunca mais dormi u com Gregorio.

Nas sua andanças sem Tereza Gregorio praticamente deixou a medicina, não teria mais sentido, para ele, trabalhar em consultório e hospital. Nunca se casara, e possuía um razoável capital, amealhado com seu trabalho. Viajou sozinho para a Europa, se descobrindo mais brasileiro ao longo daqueles longos meses.

Ficou próximo à Marieta e Rodrigo, seu marido, e do casal de filhos, Lorena e Marco. Convidado a almoçar e jantar, todos morando agora em São Paulo, nunca viu Tereza por ali. Tereza evitava ver Gregorio na casa da filha.

Gregorio um dia avisou à Marieta, iria entrar na ordem dos Beneditinos, seria monge. Moraria em São Paulo, no mosteiro, junto à Praça da Sé.