O Naufrágio do Império

Adormeceram as bolhas de espuma no doirado do areal

Extenuadas por cavalgarem na crista das ondas

Do mar português diluído na universalidade.

Foi o seu fado e foi a sua ambição

Mas a inspiração lusíada amedrontada

Desmoronou-se na alvorada do quinto império

Sem que se cumprisse o prenúncio

De uma carta astral desvirtuada

Onde as coordenadas falseavam homéricas epopeias

E as ninfas pressagiavam jubilosas aventuras

A glória e a paixão aguardavam ansiosas

Mirando nos espelhos lazúli dos profundos oceanos

Que os intrépidos marujos lusos

Se elevassem nos feitos vaticinados pelas pitonisas

Num bailado de apoteótico delírio.

Não se consumou a História

A bonança rolou das cabeças

Estiolando-se na agitação da maresia.

Os amores esvaneceram-se em insónias continuadas

Os braços caíram cansados pela fúria das velas estiraçadas

Incapazes de manobrar as barcaças dos agouros

Trágicas sobras dos consecutivos naufrágios.

A demência derramou a sofreguidão nas gargantas roucas

E os mestres capitães conjuraram uma redentora planície de Abril

Semeando de cravos um nevoeiro promissor

Perfume novo para um lacerado Portugal caduco.

Cortadas as flores regressou a esterilidade

Os arautos da mudança acabaram por enlouquecer

Enleados nas teias das suas fantasistas euforias

E o Império soçobrou

Nos desfasados hemisférios da fadiga nacional.

Moisés Salgado