- Metamorfose Lunar
Naquela noite fria, o ar passou por mim com um afável aroma de flor de laranja.
Desejei escrever. Escrevi desejos.
Neste momento, haviam tantas dúvidas quanto estrelas visíveis no céu.
Uma música ressoava e era como se as batidas acompanhassem às do coração.
Pensei ter escutado alguém entrar no quarto e chamar por mim. Olhei, mas só eu habitava aquele lugar intenso.
Mesmo assim, ao longo dos minutos que se seguiram, senti-me incomodada, com a sensação de que estava sendo, de alguma forma, observada.
Forcei-me a ignorar aquela impressão e consegui.
Mais fria e perfumada a noite se tornava. Com isso, mais palavras continuavam a serem traçadas em folhas consistentes, assim como muitas outras canções me fizeram pensar em você, sempre aparentando seguirem o ritmo do meu coração.
Olhei novamente, de relance, para o céu e pude ver a lua mais encantadora da minha vida pequena. Ela, gigantesca, de uma forma extraordinária, possuía uma cor amarelada e uma luz vigorosa, capaz de iluminar o meu íntimo. Senti-me cautelosamente invadida.
Era forte demais para que eu pudesse continuar olhando. Ainda sim, pude perceber com muita nitidez suas irregularidades. Como é possível algo ser tão especial e, ao mesmo tempo, tão imperfeito?
Nesse instante, considerei que eu mesma, simplesmente, poderia.
Ou seria como a lua.
Ou transmutava-me, irreversivelmente, em poesia.