Mulheres

Eu penso que só sei ser eu. No entanto, há várias versões de mim.

Elas se revesam. Horas se apresentam, outras se aquietam.

Dou trela à algumas delas. Outras já me aborrecem e ponho-lhes a sumir.

Algumas de mim, julgam e condenam, com poucos argumentos descabidos.

Com outras já me sento e falamos destemidamente sobre tudo.

Mas, perceba, há aquelas que arrancaram de si todos os resquícios de sentimentos e seguiram. Essas, me dão medo, pois são frias.

Muitas são mães. Algumas precoces, outras tardias. E todas tiveram que aprender vivendo. Este mundo não nos entrega um manual de sobrevivência.

Todas elas têm sonhos !

Mesmo as que se desencantaram com a vida. Essas têm fome. Sim, a fome é doída. Não só a dor do vazio no estômago, mas a dor de ter falhado consigo mesmo.

Mas nem toda fome é de comida. Muitas delas, entre caviares e chandons, sentem-se famintas do alimento que também nutre a própria vida e a faz vibrar sem propósitos definidos. Livre da perpétua ansiedade de ter de chegar a algum tipo de destino.

Não há manual pra vida e muitas dessas minhas versões já entenderam isso. Enquanto outras, seguem padrões e cartilhas baseadas em experiências de outras. Essas, eu observo a distância, com um pouco de desprezo, mas, só um pouco mesmo, pois que ainda não conseguem ouvir minha voz do ponto onde estão.

Muitas de mim, me ignoram e até me odeiam. Eu as conheço, uma a uma. As declaradas e as que quase conseguem dissimular. Eu as abraço a todas, no meu íntimo. Sem julgamentos eu posso ver através de seus olhos e experimentar seus sentimentos e assim perceber, de vez, que eu poderia mesmo ser como cada uma delas nas mais variadas circunstâncias de toda uma existência.