descendo
olhamos para as pessoas andando de forma cômica. cada qual com sua bebida, sua droga, seu vício. conversamos sobre nossas mazelas. e sobre as mazelas da humanidade em si. conversamos sobre mágoas e nos entendemos naquela noite estrelada. lembrei dos dias jovens e embebidos de álcool, com os pés tropeçando nos paralelepipedos de um centro marginalizado. somos como os pombos.
nós dois sentados na escadaria de uma catedral cheia de fé é vodka. bebemos e depois pedalamos como se nossas vidas dependessem disso. senti o coração na boca, e o pulmão inflando. senti que iria queimar com o álcool entornado goela a baixo. os músculos da coxa e do abdômen e do braço ardiam, e pareciam se desfazer com o esforço.
na descida gritamos com tudo que temos no pulmão, gritamos com tudo que tínhamos na alma. de descemos ladeira a baixo como jovens adolescentes fazendo coisas para se arrepender depois.
pensei como seria se eu tivesse tido sucesso no fim de contas?
afastei o pensamento e gritei com ainda mais força, sentimos a conexão da dor e também da vontade de viver um do outro. conectados um ao outro em uma noite escura e linda.