Redneck

Ninguém imagine que ele perde suas noites de sono tramando alguma poesia. Esta não nasce do apuro mental nem do depurar de sua sensibilidade. A poesia nasce em seu dia, ainda lúcido, e é vomitada sobre o papel da mesma forma que veio. Ou seja, como uma dor de barriga.

Certa vez, em seu apartamente, tentou ser um poeta sério, e sentou-se em frente a uma folha em branco. E a folha em branco não diz nada. Ela desafia, apenas. Então, percebeu que não adiantaria tentar ser uma poeta sério. Uma reserva da língua, encarregada de burocratizar o entendimento de tudo aquilo que cerca as pessoas.

Uma outra vez, tomado de profunda sensibilidade, o poeta percebeu que o amor entrou voando pela janela, trazendo toda a sua parafernalha: arco, setas envenenadas e asas sobressalentes. Mas não aconteceu nada. O amor ficou preso no papel de pegar moscas. Por isso, o poeta viu que o amor não é la muito competente na arte de inspirar.

O poeta gasta sua vida agora, em apenas expurgar males através de sua fala. São infinitas possibilidades de torturar ao mundo com seus transtornos.

Mas não há sentimento de culpa. No fim, mesmo diante de um espelho, cada um vê o que quer mesmo. Então, cabe ao jovem poeta precocemente decadente, rir de si e do mundo que não sabe rir, e escrever como se o tempo fosse acabar a qualquer instante.

Ser poeta não é relmente uma dádiva.Às vezes, pode virar um castigo....

È por isso que apesar de tudo, o poeta não tem nenhuma ilusão. Apenas olha, escreve, e pensa: "Meus cigarros estão se acabando".

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 10/10/2007
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