AR DE AMOR

Necessitamos de amor

Com imensa farpa entre os caninos

Sobre o qual não se fala, o qual não se ilude.

Necessitamos de amor

Por milhas que os nossos olhos cegam

E desmerecem tardia manhã em alvorada

Que sobe em vez de reagir, que nada em vez de almoçar.

Necessitamos de amor

Como quem anda com o corte no pé, pelas veredas e azinhagas

Negamos aos puros afãs, a clausura mais irmã

E, se o fazemos, é por mergulhar nesse amor incomensurável

Neste mar inescrutável

Por esta bandeira universal.

Necessitamos deste amor

Pois só nossos poros nos humilham milhares de vezes

Todas as tardes, fora da janela, todas aquelas.

Necessitamos amar este amor

Porque somente este rastro incolor move-nos à inquietude

Apenas este gosto de azedo, só este olor ensangüentado

É capaz de traduzir aos hóspedes do peito, a equação precisa

A oscilação bandida caracterizadora deste sentimento infringente.

Necessitamos ser este amor

Que nos cava a sepultura, mas não adjudica a colheita das rosas

Nem que fosse para assistir de longe, no alto cume da pitombeira

A clássica e emaranhada perda da razão de se viver

E, em havendo a saborosa reincidência, aplaudir, respeitar e reverenciar.

Necessitamos viver este amor

Por tudo que é mais sagrado

Por tudo que tenha mais raro grado

E em tudo que acreditamos

Que esteja sob este amor.

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 10/10/2007
Reeditado em 24/04/2008
Código do texto: T688678
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.