Sorriu-me vaporosa aquela voadora, parecia entender a quem via chorar. Um sorriso espontâneo, que até doía. Ficou a me rodear em disparada. 

Volta e meia pairava estática no ar, como a fitar meu triste olhar. Encarou-me a pequenina joaninha. Mas que serzinho mais petulante!


Em sinal de repulsa, assoprei-a carinhosamente; mas recusei o seu afeto. Eu estava imersa na minha tristeza, não seria justo para aquele pequeno ser amparar um humano confuso e doente. Sim, doente do espírito. Apático pela vida.


Mas a pequena retornou, e voltou ainda mais audaz; pousou suave em minha perna direita, justamente a que doía. Fiquei observando-a, e ela ainda sorria.


Assoprei-a novamente. Suas asinhas levantaram-se, mas ela não voou; ficou –novamente – estática. Estava agora tão quietinha, será que fez “caca” na minha perna? Não. Ela nem se movia, parecia uma mini-estátua. Agora, quem a observava era eu.

Estiquei minha perna direita, sufocando a dor que me consumia; mesmo assim, a sorridente Joaninha não se mexeu.

 
Os minutos tornaram-se horas, já não mais sentia a dor, minhas pernas dormiram enquanto a Joaninha também dormia. Cochilei ali mesmo, encostada naquela incondicional situação: a minha dor latente de existir.


Já sensível ao mover daquela voadora sorridente, minha perna direita anunciou o seu despertar: eu a senti caminhando em minha sensível perna. Reforcei o meu olhar que já se transformara em “olhar de gratidão”. Preparou suas asas para o vôo, deu mais alguns passinhos e enfim alçou vôo: “apenas sua asa esquerda se movia, a direita estava paralisada”.

 

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